O sábio catador de palavras
--Ernesto Rodríguez Abad
Há muitos anos viveu um sábio que queria colecionar todas as palavras do mundo.Procurou pelos países longínquos, falou com reis, rainhas, princesas, heróis e vilões de todo o mundo.
Havia tantas palavras.Eram tão estranhas algumas, tão enigmáticas outras, tão mágicas e loucas outras....
Procurou nas tribos perdidas nas selvas.Subiu as montanhas mais altas,submergiu mares.... e em algumas árvores encontrou entre as folhas palavras tímidas, enroladas como lagartas.Nas flores dos parques viu as mais ternas e delicadas e entre o fogo das fogueiras as mais fortes e ardentes.
Porém o sábio não soube o que fazer com elas e guardou-as dentro de caixas.Elas desorganizadas ou chateadas, sem saber o que fazer e nem como se relacionar, gritavam e pedia liberdade.
Faltava imaginação.
Essa não pode encontrar aquele sábio obstinado pelas palavras estranhas, pelos sons mais cativantes.
Assim, teve que sair em busca daquele ingrediente fundamental para poder brincar com as palavras.
Percorreu sete vezes o mundo,porque nunca se sabe onde encontraremos o que procuramos.Sete noites passou sonhando, mas a imaginação não apareceu em nenhum dos sete sonhos.
Ficou velho e nasceu uma barba branca que arrastava pelo chão. E voava com o vento.Um dia pensou que jamais encontraria a imaginação e sentou-se para descansar.
Diante dele havia um campo cheio de trigo que se movia com o vento e a cada ondulação surgiam desenhos de duendes, fadas, aviões, trens, carruagens de ouro que levavam princesas a bailes encantados.O bater das folhas e dos ramos, parecia uma música que vinha das entranhas da terra.
A imaginação, pela primeira vez, se divertia com o sábio.Ele , correu para casa abriu a biblioteca, tirou o pó das prateleiras e destampou as caixas.
A primeira palavras a sair foi liberdade e depois atropeladas, saíram todas.Emaranhavam-se pelas barbas do sábio; algumas preguiçosas e lentas, outras divertidas e descaradas e outras ousadas meteram-se pelos ouvidos do sábio dizendo-lhes segredos que ninguém sabia.
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